A "magia" do TAPERING

Ao longo da época desportiva o treino de um atleta sofre oscilações de carga, manipuladas pela variação da intensidade, volume, frequência e densidade. Dependendo da fase da época, poderá haver um aumento ou redução da carga, de forma a potenciar a ocorrência de determinadas adaptações fisiológicas.

Quando o objetivo é chegar a determinada fase da época/competição na melhor condição física possível, tipicamente (e bem), nos dias/semanas anteriores existe uma redução da carga de treino. A esta fase chama-se TAPERING, e é definida como "uma redução progressiva não linear da carga de treino durante um período de tempo variável, na tentativa de reduzir o stress fisiológico e psicológico do treino diário e otimizar o desempenho desportivo."

No momento em que a carga de treino começa a diminuir, é esperado que os atletas tenham adquirido a maioria ou todas as adaptações fisiológicas esperadas, sendo que à medida que os níveis de fadiga vão sendo mais reduzidos, as adaptações adquiridas vão aprimorar o rendimento do atleta, sendo este fenómeno chamado de supercompensação.

O fenómeno da supercompensação ocorre quando o atleta atinge um nível de condição física superior ao anterior.

Estas melhorias adquiridas, têm uma justificação biológica. Verificando-se um equilíbrio hormonal entre hormonas anabólicas e catabólicas, mais concretamente na relação testosterona/cortisol durante o tapering. Nesta fase, o aumento dos níveis de testosterona e redução dos níveis de cortisol, é indicativo de uma boa recuperação e eliminação da fadiga acumulada. Além disto, aumento do volume de eritrócitos, níveis de hemoglobina e hematócrito, bem como redução dos níveis de creatina quinase no sangue, estão igualmente relacionados com melhorias de rendimento, verificados ao longo do tapering.

Toda esta gestão lógica da intensidade, volume e frequência do treino, além de melhorias do ponto de vista anatómico e fisiológico, tem também melhorias ao nível psicológico no atleta, verificando-se alterações favoráveis à melhoria do seu rendimento. Com a redução da carga de treino, verifica-se uma redução na perceção do esforço, melhoria do humor, redução de perceção de fadiga e melhoria da qualidade do sono.

De forma a não comprometer as adaptações adquiridas com o treino, e para manter ou melhorar estas, é importante que o atleta mantenha níveis de intensidade moderadamente elevados. Desta forma, as principais alterações ao nível do treino, será a redução do volume (60-90%) e a frequência, mantendo-se os níveis de intensidade elevados.

Portando, agora já sabes, quando tiveres uma competição importante onde queiras ir nas melhores condições físicas possíveis, planeia bem a fase de TAPERING, tendo particular atenção à redução do volume, mas mentendo sempre níveis elevados de intensidade para não comprometer o teu rendimento. Por aqui, é assim que fazemos com os nossos atletas!

Resumindo os parágrafos acima:

  • Tapering é uma redução progressiva da carga de treino;
  • O grande objetivo é reduzir a fadiga, sem comprometer as adaptações, de forma a otimizar a performance desportiva;
  • Pode variar de 4 a ~28 dias, dependendo da carga de treino anteriormente realizada, dos objetivos competitivos e da própria condição física do atleta;
  • Planeia-se através da manipulação das diversas variáveis do treino: volume (principal), intensidade, frequência e densidade;
  • A principal diferença do tapering para as outras fases do treino é a redução gradual do volume (até 60-90%), mantendo-se a intensidade em moldes idênticos;
  • Esta variação da carga de treino tem influências positivas na melhoria ao nível cardiorespiratório, metabólico, hematológico, hormonal, neuromuscular e psicológico dos atletas;
  • Desta forma, o atleta continua a ter treinos de qualidade, conseguindo-se assim potenciar a ocorrência do fenómeno da supercompensação (o atleta atingir um nível de condição física superior ao anterior);


Bons treinos e boas provas!

Referências:
  1. Adlercreutz, H., Härkönen, M., Kuoppasalmi, K., Näveri, H., Huhtaniemi, I., Tikkanen, H., Remes, K., Dessypris, A., & Karvonen, J. (1986). Effect of training on plasma anabolic and catabolic steroid hormones and their response during physical exercise. International journal of sports medicine, 7 Suppl 1, 27-28. https://doi.org/10.1055/s-2008-1025798
  2. Mujika, I., & Padilla, S. (2000). Detraining: loss of training-induced physiological and performance adaptations. Part I: short term insufficient training stimulus. Sports medicine (Auckland, N.Z.), 30(2), 79-87. https://doi.org/10.2165/00007256-200030020-00002
  3. Mujika, I., & Padilla, S. (2003). Scientific bases for precompetition tapering strategies. Medicine and science in sports and exercise, 35(7), 1182-1187. https://doi.org/10.1249/01.MSS.0000074448.73931.11