Princípios do Treino Desportivo
10/02/2022
A prescrição de exercício é
uma tarefa complexa, exigindo da parte do treinador/equipa técnica
conhecimento em diversas áreas científicas (anatomia, fisiologia,
biomecânica, nutrição, etc…). O planeamento e prescrição das
diversas unidades de treino devem ser elaboradas e organizadas,
tendo em conta diversos fatores, assentes num conjunto de diretrizes
que visam orientar os treinadores nesta tarefa.
Refiro-me aos
PRINCÍPIOS DO TREINO, que, não sendo exclusivos de uma única
modalidade desportiva, devem ser interpretados como "linhas
orientadoras" nas fases de planeamento e prescrição de treino.
- Princípio da Sobrecarga: a aplicação das cargas de
treino com intensidades fortes/óptimas, devem provocar um “stress
fisiológico” no organismo do atleta de forma a estimular
adaptações, e como consequência, determinarem ganhos benéficos
para a melhoria do seu rendimento;
- Princípio da Especificidade: os exercícios prescritos
para um determinado atleta, devem, sempre que possível incluir
particularidades e características da atividade, tendo em conta o
regime energético predominante, grupos musculares utilizados,
tipos de fibras e tipos de contração muscular, tipos de força,
movimentos realizados, amplitudes articulares, etc, de forma a
permitir uma maior transferência de ganhos dos exercícios para a
prática competitiva;
- Princípio da Reversibilidade: Pausas prolongadas na
prática desportiva, levam à perda de capacidades e consequente
perda de rendimento desportivo.O processo de involução das
capacidades físicas será mais rápido se os processos de adaptação
estiverem menos consolidades, ou seja, atletas menos treinados,
têm perdas mais rápidas dos ganhos adquiridos;
- Princípio do Heterocronismo: quanto menor a intensidade
e maior o volume (longa duração), mais tarde se fará sentir o
efeito do treino. No entanto, estas melhorias também demoram mais
tempo a desaparecer. (treinos curtos de alta intensidade provocam
efeitos mais rápidos, enquanto treinos longos de baixa intensidade
provocam efeitos mais tardios, mas mais duradouros);
- Princípio da Continuidade: A aplicação de cargas de
treino com intensidades óptimas deve ser continua, sendo
progressivamente assimiladas pelo organismo através dos processos
de adaptação. Assim, um correto planeamento do treino não deverá
permitir uma quebra na sua continuidade, contribuindo
continuamente para o desenvolvimento fisiológico. A interrupção
prolongada do treino, leva à perda de adaptações;
- Princípio da Progressão: Os estímulos aplicados através
das cargas de treino devem ser progressivamente mais complexos e
exigentes, estimulando adaptações que determinarão ganhos.
Estímulos fracos ou moderados poderão levar a uma estabilização ou
redução das capacidades no atleta;
- Princípio da Ciclicidade: O treino deve ser devidamente
pensado, estruturado e sub-dividido em partes lógicas, tendo em
conta a periodização adequada para a modalidadade, o calendário
competitivo e os objetivos do atleta;
- Princípio da Individualização: Cada ser humano tem a sua
individualização biológica e psicológica, que faz com que reaja e
se adapte à aplicação dos estímulos de uma forma única. Assim, o
treino deve ser planeado, pensado e prescrito exclusivamente para
um único indivíduo, permitindo que este reaja da melhor forma
possível aos estímulos do treino;
- Princípio da Multilateralidade: o treino deve permitir
que o atleta desenvolva adaptações que provoquem um
desenvolvimento multilateral, de forma a manter um equilibrio
entre as diversas estruturas e segmentos corporais.
Estes são uma parte importante dos princípios do treino que qualquer
treinador ou praticante deve ter presente no momento de planear e
prescrever exercícios, pois ajudam a refletir e a organizar ideias
de forma a que a aplicação das cargas de treino provoquem estímulos
ideais, gerando adaptações que determinarão ganhos no rendimento
desportivo dos atletas.
Autor:
Miguel Baptista
Fisiologista do Exercício
Referências:
- Bompa, T. (1999). Periodization. Theory and Methodology of
Training. (4ª ed.). Champaign: Human Kinetics.
- Dantas, E. H. M. (2012). La Práctica de la Preparación
Física. Barcelona: Editorial PaidoTribo
- Matvéiev, L. P. (1991). Fundamentos do Treino Desportivo.
Lisboa: Livros Horizontes