Princípios do Treino Desportivo
10/02/2022
Aspetos principais da teoria do desporto (Adaptado de Matvéiev, 1991)A prescrição de exercício é uma tarefa complexa, exigindo da parte do treinador/equipa técnica conhecimento em diversas áreas científicas (anatomia, fisiologia, biomecânica, nutrição, etc…). O planeamento e prescrição das diversas unidades de treino devem ser elaboradas e organizadas, tendo em conta diversos fatores, assentes num conjunto de diretrizes que visam orientar os treinadores nesta tarefa.
Refiro-me aos PRINCÍPIOS DO TREINO, que, não sendo exclusivos de uma única modalidade desportiva, devem ser interpretados como "linhas orientadoras" nas fases de planeamento e prescrição de treino.
  • Princípio da Sobrecarga: a aplicação das cargas de treino com intensidades fortes/óptimas, devem provocar um “stress fisiológico” no organismo do atleta de forma a estimular adaptações, e como consequência, determinarem ganhos benéficos para a melhoria do seu rendimento;
  • Princípio da Especificidade: os exercícios prescritos para um determinado atleta, devem, sempre que possível incluir particularidades e características da atividade, tendo em conta o regime energético predominante, grupos musculares utilizados, tipos de fibras e tipos de contração muscular, tipos de força, movimentos realizados, amplitudes articulares, etc, de forma a permitir uma maior transferência de ganhos dos exercícios para a prática competitiva;
  • Princípio da Reversibilidade: Pausas prolongadas na prática desportiva, levam à perda de capacidades e consequente perda de rendimento desportivo.O processo de involução das capacidades físicas será mais rápido se os processos de adaptação estiverem menos consolidades, ou seja, atletas menos treinados, têm perdas mais rápidas dos ganhos adquiridos;
  • Princípio do Heterocronismo: quanto menor a intensidade e maior o volume (longa duração), mais tarde se fará sentir o efeito do treino. No entanto, estas melhorias também demoram mais tempo a desaparecer. (treinos curtos de alta intensidade provocam efeitos mais rápidos, enquanto treinos longos de baixa intensidade provocam efeitos mais tardios, mas mais duradouros);
  • Princípio da Continuidade: A aplicação de cargas de treino com intensidades óptimas deve ser continua, sendo progressivamente assimiladas pelo organismo através dos processos de adaptação. Assim, um correto planeamento do treino não deverá permitir uma quebra na sua continuidade, contribuindo continuamente para o desenvolvimento fisiológico. A interrupção prolongada do treino, leva à perda de adaptações;
Princípio da progressão (Adaptado de Bompa, T., 1999)
  • Princípio da Progressão: Os estímulos aplicados através das cargas de treino devem ser progressivamente mais complexos e exigentes, estimulando adaptações que determinarão ganhos. Estímulos fracos ou moderados poderão levar a uma estabilização ou redução das capacidades no atleta;
  • Princípio da Ciclicidade: O treino deve ser devidamente pensado, estruturado e sub-dividido em partes lógicas, tendo em conta a periodização adequada para a modalidadade, o calendário competitivo e os objetivos do atleta;
  • Princípio da Individualização: Cada ser humano tem a sua individualização biológica e psicológica, que faz com que reaja e se adapte à aplicação dos estímulos de uma forma única. Assim, o treino deve ser planeado, pensado e prescrito exclusivamente para um único indivíduo, permitindo que este reaja da melhor forma possível aos estímulos do treino;
  • Princípio da Multilateralidade: o treino deve permitir que o atleta desenvolva adaptações que provoquem um desenvolvimento multilateral, de forma a manter um equilibrio entre as diversas estruturas e segmentos corporais.
Estes são uma parte importante dos princípios do treino que qualquer treinador ou praticante deve ter presente no momento de planear e prescrever exercícios, pois ajudam a refletir e a organizar ideias de forma a que a aplicação das cargas de treino provoquem estímulos ideais, gerando adaptações que determinarão ganhos no rendimento desportivo dos atletas.
Autor:
Miguel Baptista
Fisiologista do Exercício
Referências:
  • Bompa, T. (1999). Periodization. Theory and Methodology of Training. (4ª ed.). Champaign: Human Kinetics.
  • Dantas, E. H. M. (2012). La Práctica de la Preparación Física. Barcelona: Editorial PaidoTribo
  • Matvéiev, L. P. (1991). Fundamentos do Treino Desportivo. Lisboa: Livros Horizontes