Prevalência da corrida em Portugal: características sociodemográficas, comportamentais e psicossociais
28/01/2022
Snow

Recentemente, um conjunto de investigadores (Pereira et al., 2021), recolheu dados para aferir a prevalência da corrida, enquanto atividade recreativa, na população portuguesa, algo relevante para este espaço.

De conhecimento geral, a prática regular de uma atividade física é importante para manutenção de índices ótimos de saúde, prevenindo também doenças crónicas como obesidade e diabetes, doenças cardiovasculares e vários tipos de cancro. Apesar destes dados, validados de forma regular, 74% dos portugueses acima dos 15 anos referem nunca ou raramente realizar exercício ou participar em atividades desportivas.

Importante considerar, não apenas fatores que são determinantes à mudança, mas também o que depois dessa transição, permite a manutenção do comportamento:

  • Motivação
  • Estabelecimento de objetivos
  • Auto-regulação
  • Auto-eficácia
  • Apoio de pares
  • Satisfação
  • Performance/Flow

A corrida é uma forma de atividade física acessível a todos, com os mesmos benefícios já mencionados. No artigo, Pereira et al. (2021) confirmam o aumento de praticantes nos últimos 20 anos, valendo-se de outros dados que apontam para uma prevalência entre 5,5 e 8,5%. Na sua definição, corrida recreativa é atividade realizada pelo menos duas vezes por semana ou pelo menos 60 minutos semanais. O estudo realizado recolheu dados de uma amostra aleatória de 1084 indivíduos, distribuídos de forma igual entre géneros e faixas etárias (18-40; 41-65). Foi possível identificar uma prevalência de 10,6% de corredores recreativos em Portugal, sendo mais representativo nos homens (14,6% vs 6,6%) e jovens (13,6% vs 7,7%). Os motivos mais referidos, para a prática, foram:

  • Orientação para a saúde
  • Auto-estima
  • Sentido da vida

Nota especial para o facto de os corredores mais jovens (18-40) apontarem, como fatores mais significativos, sentimento de competição e Superação pessoal. Da amostra, foi possível identificar uma associação entre o Sentido de Vida e Orientação para a Saúde, com índices elevados de Vitalidade e Flow. Este facto encontra paralelo na diferença verificada na perceção de saúde, uma vez que 82% dos corredores referem ter bons ou excelentes níveis, ao passo que apenas 58% dos não corredores se alinham pela mesma avaliação.

Ainda que exista uma perceção mais positiva da prática desportiva, especialmente da corrida, nas suas modalidades, a taxa de praticantes em Portugal permanece abaixo de países como Dinamarca (30%), Austrália (20%) ou Eslovénia (12%), independentemente das dificuldades em comparar com exatidão, perante diferentes definições no que concerne à pratica da corrida. Continua a existir espaço para cativar, mobilizar e manter novos atletas!

Deste estudo fica outro dado relevante: fatores intrínsecos como Orientação para a saúde; Auto-estima e Sentido da vida foram apontados como mais importantes que redução de peso ou reconhecimento. Junto com outros dados pesquisados pelos autores, é clara a influência em quem corre de forma regular, de uma identificação com a prática e da obtenção de satisfação pela realização que esta produz em si, o que reforça a qualidade na realização e experiência.

O desafio, para quem procura ser mais regular ou consistente, passa assim por aumentar a competência e autonomia, subjetiva e objetiva, focando-se numa prática física estruturada e adequada, mas também na sua motivação e auto-regulação.

Autor:
Tiago Afonso
Psicólogo
Referências:
  • Pereira, H., Palmeira, A., Carraça., Santos, I., Marques, M., Teixeira. (2021). Running prevalence in Portugal: Socio-demographic, behavioral and psychosocial characteristics. PLOS ONE 16(1): e0245242. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0245242