O "Peso" ideal

Qual será o peso ideal de uma pessoa?


Quando alguém diz que o seu peso ideal é 60kg, este valor fundamenta-se em quê? No Índice de Massa Corporal (IMC)?

O IMC resume-se a uma formula que apenas classifica o peso da pessoa em relação à sua altura (IMC = Peso/altura2).

Mas isto é insuficiente, pois é um valor muito relativo. O peso de uma pessoa é a soma dos vários componentes do organismo (músculo, osso, gordura e residual (órgãos, pele, sangue, tecido epitelial, sistema nervoso, etc)), e a peso destes varia de pessoa para pessoa, não sendo sempre proporcional à altura. Portanto, podemos ter uma pessoa exatamente com a mesma altura e o mesmo peso, mas com diferentes pesos destes componentes entre eles.

Tipo morfológico

Vejamos:
O indivíduo B e o indivíduo C, ambos do sexo masculino pesam 88kg e medem 1.80m. De acordo com a fórmula, o IMC de ambos está nos 27.2, indicando excesso de peso para a sua altura.

Mas se escrutinarmos um pouco e avaliarmos a composição corporal de cada um, hipoteticamente o indivíduo C tem 25% de massa gorda e 30% de massa muscular. O indivíduo B apresenta 10% de massa gorda e 45% de massa muscular. E agora? Ambos têm exatamente a mesma altura e o mesmo peso, mas um tem mais gordura e menos músculo em relação ao outro.

O problema está exatamente aqui. Não se deve olhar exclusivamente para o valor que aparece na balança, pois cada pessoa é única e tem um tipo morfológico próprio (somatótipo).

O somatótipo tem como objetivo estudar e classificar a variação da morfologia do ser humano. Isto é feito de acordo com categorias baseadas em certos traços distintos (dimensões, proporções e composição). De forma a classificar os indivíduos, Sheldon, Stevens e Tucker (1940), criaram uma técnica de classificação do somatótipo através de 3 componentes distintas (mesomorfismo, endomorfismo e ectomorfismo).

  • Ectomorfo: pessoa muito magra/esguia, pouca massa muscular
  • Mesomorfo: pessoa com maior volume de massa muscular, ombros largos e massa muscular bem visível
  • Endomorfo: pessoa com maior volume corporal, corpo arredondado, grande volume abdominal (flacidez muscular, obesidade...)
Somatocarta

Para o cálculo do somatótipo, pegando no trabalho de Sheldon, Heath e Carter (1971), desenvolveram um novo modelo distinto para homens e mulheres. Avaliaram um conjunto de valores com base em medições somáticas (pregas adiposas; perímetros; diâmetros ósseos; altura), seguindo-se o cálculo do somatótipo através de fórmulas matemáticas que utilizam os valores destas medições para calcular cada uma das 3 componentes. Posteriormente, e de acordo com o valor de cada componente, calcula-se a somatocarta, que é basicamente a representação gráfica do somatótipo (ver 2ª imagem).

Através dos valores obtidos aplicados na somatocarta, podemos facilmente perceber qual o tipo morfológico predominante num indivíduo, e daí retirar conclusões relativamente a uma aproximação ao seu peso ideal.

No entanto, quando se pensa no peso ideal, é necessário ter em conta os objetivos da pessoa. No caso dos objetivos estarem relacionados com o rendimento numa determinada modalidade desportiva, tem de se perceber a caracterização fisiológica da modalidade, e daí orientar o treino de forma a ir de encontro às necessidades próprias do tipo de esforço.

Portanto, não basta apenas pesar e ver o total de kgs que a balança nos indica. Devemos fazer uma correta avaliação antropométrica, onde obtemos não só o peso total, como também um conjunto de medidas para podermos calcular cada um dos componentes do organismo. No caso de haver objetivos relacionados com o rendimento desportivo, deve-se também ter em conta as exigências fisiológicas da modalidade.

Por aqui, é assim que fazemos com os nossos clientes. Avaliamos rigorosamente a composição corporal, planeamos o treino de acordo com os objetivos, treinamos, voltamos a avaliar e o ciclo continua.

Referências:
  • Carter, J. E. L., Heath, B. H. (1990). Somatotyping: development and applications. Cambridge: Cambridge University Press
  • Sheldon, W. H., Stevens, S. S., Tucker, W. B. (1940). The varieties of Human Physique: An introductyion to Consitutional Phychology. New York: Harper & Bros