Anorexia induzida pelo exercício

A maioria daqueles que correm ou fazem exercício físico de grande intensidade já sentiram aquela sensação de falta de apetite durante uma prova de longa duração, ou após terminar um treino mais longo ou intenso. Esta sensação, conhecida como anorexia induzida pelo exercício, deve-se principalmente à presença de uma hormona no organismo, a Grelina (hormona da fome).

Esta hormona é produzida maioritariamente nas células ípsilon do estômago e do pâncreas quando o estômago está vazio, e atua no hipotálamo gerando a sensação de fome. A falta de sono e dietas com restrição calórica também promovem o aumento da produção desta hormona.

Se em alguns casos pode ser um problema, como durante corridas de longa duração onde existe a necessidade do praticante se alimentar com frequência quando a vontade de ingerir alimentos é reduzida (devido à ausência desta hormona), noutros casos isto pode ser aproveitado a seu favor.

Em casos de necessidade de restrição calórica, realizar exercícios físicos com determinadas características ajudam a inibir a produção desta hormona, reduzindo o apetite.

Isto acontece porque o exercício:

  1. promove a redução do fluxo sanguíneo gástrico, inibindo a secreção de grelina;
  2. aumenta a secreção de catecolaminas, que inibem a secreção de grelina e estimulam a secreção de GLP-1 e PYY;
  3. inibe a motilidade gastrointestinal (se for superior a 75% do VO2máx), o que também estimula a secreção de GLPS-1 e PYY. Como a grelina estimula a motilidade, se estiver diminuida, a motilidade diminui;
  4. aumenta a concentração de ácidos gordos livres, inibindo a secreção de grelina;
  5. aumenta a concentração de lactato no sangue, inibindo a secreção de grelina e diminuindo o aporte energético;
  6. aumenta a temperatura corporal, ocorrendo assim uma redistribuição sanguínea que promove estes efeitos (Hazell et. al, 2016).
O que fazer para inibir a produção desta hormona?

No caso dos praticantes que pretendem alimentar-se durante provas de longa distância, estes devem tentar ingerir alimentos com frequência para evitar chegar ao ponto de ter o estômago vazio, pois é quando a produção desta hormona está aumentada.

No caso daqueles que pretendem fazer uma restrição calórica, exercícios de longa duração e/ou de elevada intensidade, promovem uma menor libertação desta hormona na corrente sanguínea, o que irá ajudar a reduzir o apetite após a prática do exercício.

Quanto ao tipo de exercício, exercício aeróbios > 60% do VO2máx promovem mais a anorexia induzida pelo exercício que exercícios de músculação (Broom et. al, 2009). No entanto, para atenuar mais o apetite com exercícios de musculação, a recomendação é que o treino seja full-body (Freitas et. al, 2021).

Uma situação muito curiosa, é que parece que o exercício aumenta as respostas neurais em regiões do cérebro relacionadas à recompensa em resposta a imagens de alimentos low-carb, e suprime a ativação durante a visualização de alimentos hipercalóricos. Ou seja, depois de treinos intensos apetece-nos muito mais comer saladinhas em vez de hamburgueres com batatas fritas (Crabtree et. al, 2014).

Bons treinos!!!

Referências:
  1. Alajmi, N., Deighton, K., King, J. A., Reischak-Oliveira, A., Wasse, L. K., Jones, J., Batterham, R. L., & Stensel, D. J. (2016). Appetite and Energy Intake Responses to Acute Energy Deficits in Females versus Males. Medicine and science in sports and exercise, 48(3), 412-420. https://doi.org/10.1249/MSS.0000000000000793
  2. Broom, D. R., Batterham, R. L., King, J. A., & Stensel, D. J. (2009). Influence of resistance and aerobic exercise on hunger, circulating levels of acylated ghrelin, and peptide YY in healthy males. American journal of physiology. Regulatory, integrative and comparative physiology, 296(1), R29-R35. https://doi.org/10.1152/ajpregu.90706.2008
  3. Crabtree, D. R., Chambers, E. S., Hardwick, R. M., & Blannin, A. K. (2014). The effects of high-intensity exercise on neural responses to images of food. The American journal of clinical nutrition, 99(2), 258-267. https://doi.org/10.3945/ajcn.113.071381
  4. Douglas, J. A., King, J. A., McFarlane, E., Baker, L., Bradley, C., Crouch, N., Hill, D., & Stensel, D. J. (2015). Appetite, appetite hormone and energy intake responses to two consecutive days of aerobic exercise in healthy young men. Appetite, 92, 57-65. https://doi.org/10.1016/j.appet.2015.05.006
  5. Freitas, M. C., Ricci-Vitor, A. L., de Oliveira, J., Quizzini, G. H., Vanderlei, L., Silva, B., Zanchi, N. E., Cholewa, J. M., Lira, F. S., & Rossi, F. E. (2021). Appetite Is Suppressed After Full-Body Resistance Exercise Compared With Split-Body Resistance Exercise: The Potential Influence of Lactate and Autonomic Modulation. Journal of strength and conditioning research, 35(9), 2532-2540. https://doi.org/10.1519/JSC.0000000000003192
  6. Hazell, T. J., Islam, H., Townsend, L. K., Schmale, M. S., & Copeland, J. L. (2016). Effects of exercise intensity on plasma concentrations of appetite-regulating hormones: Potential mechanisms. Appetite, 98, 80-88. https://doi.org/10.1016/j.appet.2015.12.016<7
  7. Schubert, M. M., Sabapathy, S., Leveritt, M., & Desbrow, B. (2014). Acute exercise and hormones related to appetite regulation: a meta-analysis. Sports medicine (Auckland, N.Z.), 44(3), 387-403. https://doi.org/10.1007/s40279-013-0120-3